FÚLVIO COSTA COMENTA: O desinteresse da Prefeitura Municipal de Grajaú em deixar o Hospital São Francisco nas mãos dos Camilianos tem um quê muito interessante


Fúlvio Costa, jornalista

Não há meio termo nem meias palavras. O problema porque passa o Hospital São Francisco de Assis não pode continuar. É vergonhoso ter que falar sobre um assunto tão elementar, mas necessário. Não é nova a crise que reclama o órgão, se dá desde gestões municipais anteriores (Bernardeth Nogueira, Mercial Arruda, e agora Júnior Otsuka), prova de que no Brasil o desenvolvimento sempre chega depois. Mas como tudo nessa vida há um quê e um porque, a população precisa saber o motivo de a Prefeitura Municipal de Grajaú não mover uma palha para que o hospital funcione de maneira descente.
A resposta é única e objetiva: nas mãos dos Camilianos, tudo deve ser feito de maneira transparente. Trocando em miúdos, nada, nenhum alfinete pode sumir da instituição sem que seja tomado nota para prestação de contas. Não há nenhum controle da instituição por parte da Secretaria de Saúde, ou de subalternos do prefeito, como acontece no Hospital Geral de Grajaú (HGG) cujo chefe se chama Marcelo Otsuka (irmão). Administrado de maneira independente, o hospital não serve para motivos e rumos escusos que a Prefeitura Municipal possivelmente queira dar à instituição. Não se desvia, não há retorno (méritos próprios), não está nas mãos do prefeito, logo, não existe.
Com relação ao financeiro, os Camilianos, vêm (re) afirmando, apresentando dados de que não é mais possível continuar da forma como está. Grajaú só recebeu dessa respeitada instituição que administra dezenas de hospitais espalhados pelo Brasil. Em toda a história do Hospital São Francisco de Assis, nunca fomos capazes de olhar para ele como nosso, ou seja, apenas recebemos, nada doamos. Começando pela Prefeitura Municipal de Grajaú, que não colabora com nenhum centavo de recursos próprios, passando pelas prefeituras dos municípios vizinhos (Arame, Itaipava do Grajaú, Formosa da Serra Negra, Sítio Novo) que também não o fazem, mas despejam aqui seus pacientes e, por fim, o próprio povo grajauense se omite: nossos empresários, fazendeiros, o que fazem para que o hospital não feche as portas e pare de mendigar?
Fundado pelo saudoso Servo de Deus Frei Alberto Beretta em 1950, com ajuda de irmãos italianos que doaram tempo, dinheiro e perícia para levar adiante o ideal missionário, inaugurado em 1957, administrado pela Sociedade Beneficente São Camilo desde 1980, o hospital ainda tem sobrevivido graças à fé de pessoas de longe que acreditam nesse trabalho social.
Em julho de 2012 o Rotery Internacional doou um aparelho novo de Raio X ao hospital. Em fevereiro deste ano, o Rotery Clube Vilvorde da Itália doou R$ 70.000,00 (setenta mil reais) para a aquisição de um gerador de energia de 140kva, tudo fruto de contatos, pedidos, em resposta a um trabalho sério e preciso que só beneficia a região centro-sul maranhense e não vai parar por aí.
Mesmo assim, o atual secretário de saúde, Marquinho Jorge, é capaz de colocar em xeque a seriedade da instituição, ter a ousadia de ir a um programa de TV pedir que os Camilianos entreguem o hospital para a Prefeitura. Olha que interessante: pedir a administração do hospital. As palavras dele caem como uma luva para as afirmações do segundo parágrafo deste artigo, não? Essa posição soa de maneira desrespeitosa a um trabalho tão belo e tradicional realizado em Grajaú. Sim, o secretário foi se explicar nesta segunda-feira, 28 de julho, mas o auditor dos Camilianos, Felipe Ruis, que se encontra há uma semana na cidade, não foi convidado a participar do programa para apresentar os números do hospital. Ora, para que? Todos sabem de quem é o programa, a quem e quais interesses a TV Rio Grajaú responde. Em qualquer parte do Brasil o Programa Balanço Geral não tem ligação nenhuma com a política, pelo menos de maneira evidente, mas em Grajaú, ele pertence a representantes oficiais do Poder Municipal,ligados à Prefeitura e à Câmara, e o programa, de cunho sensacionalista, é apresentado por um secretário: Raimundo Sabóia (Meio Ambiente). Aos que dizem que somos parciais, o que seria isto, então?
Enquanto isso, o hospital espera por repasses que estão sendo segurados pela Prefeitura. Em dezembro de 2013, o Governo Federal destinou R$ 133.674,16 (cento e trinta mil reais, seiscentos e setenta e quatro reais e dezesseis centavos) ao Hospital São Francisco, valor que chegou à conta da Prefeitura, mas não ao destinatário final. O Município não dá nenhum sinal de que irá negociar as dívidas do HSF e pelo visto será o povo quem vai perder. O dia está chegando: dia 1º de agosto fecha a maternidade do velho Chico.
Hospitais Santa Neusa e Geral
Outros questionamentos também aparecem: por que o Hospital Santa Neusa, referência dos Povos Indígenas, recebe o mesmo valor (R$ 240.000,00) mensais para serviços obstetrícios se a população indígena é bem inferior ao restante da população grajauense? Por que a Secretaria de Saúde do Município não assina o Plano Operativo do Hospital São Francisco, uma vez que esse é o principal meio de levar a cabo e ao conhecimento da população quantitativamente e qualitativamente os serviços prestados? Em 18 de agosto de 2013 a secretária Jannya Araújo Mello recebeu a proposta do Plano, mas até agora não foi assinado por Marquinho Jorge.
Números
E por último, o Município recebe do Governo Federal mensalmente R$ 550.000,00 (quinhentos e cinquenta mil reais) para os serviços de média e alta complexidade hospitalar e ambulatorial, sendo que é repassado apenas R$ 240.000,00 ao HSF (170 mil para a média e alta complexidade e 70 mil do IAC (Incentivo de Adesão a Contratualização) provenientes do Ministério da Saúde. Para onde está indo os outros R$ 310.000,00 (trezentos e dez mil reais), uma vez que o Santa Neusa além dos números citados que recebe, também é beneficiado com outro montante para atender os indígenas pela Funasa?

A população, portanto, poderá perder R$ 110.000,00 caso os Camilianos fechem o HSF. Esse dinheiro corresponde aos 70 mil do IAC e 40 mil de incentivos, destinado à entidade por ser filantrópica. Diante de tudo isso, onde se encontra o Conselho Municipal de Saúde cujo mandato venceu em março de 2014 e o presidente era João Batista da Silva e Silva, diretor da Unidade Básica Itamar Guará?

0/Post a Comment/Comments