Deputado Jean Wyllys desabafa sobre morte de João Donati


O jovem teve pernas quebradas, foi torturado e depois de ser assassinado foi colocado dentro de sua boca um bilhete que dizia: “Vamos acabar com essa raça maldita de demônios Gays que infesta nosso planeta”.

Nas redes sociais mais de 11 mil compartilhamentos e comentários acusam o pastor Marcos Feliciano, Bolsanoro e Silas Malafaia, de serem os culpados pelos assassinatos dos jovens homossexuais. Os comentários dizem que Feliciano representa a classe da maldade na Câmara, incentivando o ódio a discórdia, a fúria e acima de tudo a crucificação e o preconceito imoral contra os gays, quando na verdade deveria está cuidando de projetos que protegem a vida e cultive o amor ao próximo. Silas Malafaia é acusado de pregar a desunião dos povos contra o homossexualismo e de incentivar nações de evangélicos a desfazer, humilhar e se for possível também até ajudar matar os gays.

Com essa situação que ocorreu em Goiás, o protesto ganhou o mundo através das redes sociais e vários argumentos se dividem entre os vilões acusados de incentivar e a maldade praticada pelos assassinos, em sua página o deputado Jeana Wyllys escreveu o seguinte: Vocês podem imaginar que não é nada fácil para mim ter que lidar com isso. A imagem do rapazinho morto, jogado num terreno, não sai de minha cabeça. Não sai da minha cabeça a revolta por ver uma vida abortada dessa maneira tão torpe. Não sai de meu coração a tristeza de ver que toda a alegria que ele esbanja nessa foto que postei se foi pela mão de algozes cheios de ódio por nós LGBTs. Não deixo de me imaginar no lugar dele (sim, pode ser qualquer um de nós ou dos que amamos). Mas não podemos deixar que o medo se apodere de nós e nos empurre para o armário e para o silêncio. É isso que eles querem. Mas se depender de mim não vão ter! 

#JustiçaParaJoãoDonati

Enquanto os principais candidatos à Presidência da República fazem jogo de "aproximação" e recuo em relação aos direitos de LGBTs, a partir de cálculo eleitoral e não de um sincero compromisso com o bem de todos cidadãos e cidadãs desse país, mais um homossexual é brutalmente assassinado pelo fato de ser homossexual (de pertencer a essa comunidade da qual eu também faço parte e tão alijada em sua dignidade e direitos).

Se, em homicídios semelhantes anteriores (e são muitos os homicídios motivados por homofobia), policiais e conhecidos difamadores da comunidade LGBT questionaram a motivação torpe e rechaçaram a evidente ligação entre os homicídios e os discursos de ódio pregados por fundamentalistas religiosos e fascistas, neste caso mais recente a motivação homofóbica é inconteste: o bilhete deixado na boca de João Antonio Donati - jovem de apenas 18 anos, encontrado morto em um terreno baldio em Inhumas, GO, com as duas pernas e o pescoço quebrados- deixou claro o recado: "vamos acabar com essa praga".

Lembro-me que há exatos quatro anos, em meio ao turbilhão da campanha que me elegeria deputado federal pelo Rio de Janeiro, recebi a notícia do assassinato de Alexandre Ivo, um menino de 14 anos espancado e torturado até a morte por ser homossexual - crime até hoje sem solução!

Quando vejo a história se repetir sem que haja, por parte dos poderes públicos (e agora por parte dos principais candidatos à Presidência da República), um aceno para apresentar um plano exequível pela cidadania LGBT que contenha o combate ao bullying; que ponha limite ao discurso fundamentalista religioso, à intolerância e ao preconceito; quando vejo isso acontecer, aquele sentimento de revolta e impotência que tive com o assassinato de Alexandre voltam a me assombrar.

Como já escrevi em outros casos, um brutal assassinato como este deveria ser uma notícia que comoveria a sociedade e chocaria a todos, independentemente de suas diferenças, como aconteceu no caso do menino Bernardo. Em outros países, essa notícia seria manchete de capa de todos os jornais. A Presidenta falaria em cadeia nacional. O país inteiro reclamaria justiça. Os poderes públicos reagiriam de imediato. Aqui, não.

Aqui, muitos farão de tudo para provar que não existe intolerância no caso em questão e que um recado como “vamos acabar com essa praga” não tem um vínculo direto com os discursos de ódio proferidos por canalhas que, em nome de uma fé que não têm, interpretam mal o texto sagrado para usá-la contra a população LGBT, pregando o ódio e convocando a violência. Quem não se lembra do caso do jovem Kaique, que foi encontrado no viaduto da 9 de julho, em São Paulo, com uma barra de ferro atravessada em sua perna? Esse caso transformou-se em um suicídio, mesmo as pistas todas indicando que foi um crime motivado por homofobia. Ou do caso do próprio Alexandre Ivo, que foi simplesmente apagado dos noticiários? Sem querer minimizar o caso do jovem Bernardo, mas porque o seu é mais merecedor de uma manchete de jornal do que os demais?

Eu já disse uma vez e vou repetir. Cada uma dessas vítimas tem um algoz material — o assassino, aquele que enfia a faca, que puxa o gatilho, que "desce o pau", como o pastor mala pediu numa de suas famosas declarações televisivas. Mas há outros algozes, que também têm sangue nas mãos. São aqueles que, no Congresso, no governo e nas igrejas fundamentalistas, promovem, festejam, incitam ou fecham os olhos, por conveniência, oportunismo, poder e dinheiro, cada vez que mais um LGBT é morto. El@s também são assassinos.

Até que ponto vamos ter que esperar para que alguém tenha a coragem de pôr um fim nisto?


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