O WhatsApp é um dos aplicativos mais populares de todos os tempos. É
rápido, é flexível, é prático e é de graça, uma mão na roda nesses tempos
difíceis em que todos os preços estão subindo. Ele é perfeito no que se propõe
a fazer, ou seja, conectar pessoas. Por causa disso, todos adoram o WhatsApp.
Isto é: todos menos as operadoras e o ministro Ricardo Berzoini, que estão
loucos para acabar com ele.
Eu até entendo por que as operadoras não gostam do WhatsApp, já que ele
permite aos usuários economizar o rico dinheirinho que, antes, ia direto para
os seus (delas) bolsos. Mas, por mais que me esforce, não consigo entender por
que o ministro não gosta do aplicativo, que considera um serviço pirata “à
margem da lei”.
Pensem comigo. Assim como o seu esclarecido colega Aldo Rebelo, da
Ciência, Tecnologia e Inovação, o ministro Berzoini se considera um homem de
esquerda. Ora, como tal, ele deveria, pelo menos em tese, amar a vasta massa de
trabalhadores — que, por sua vez, amam de paixão o WhatsApp, que funciona a seu
favor e protege o seu dinheiro das teles. As teles, todos sabemos, são empresas
gigantescas, que têm lucros quase tão obscenos quanto os dos bancos. E que,
ainda por cima, mandam quase tudo o que ganham para o exterior: “Subsidiárias
brasileiras de telecomunicações chegam a enviar (para o exterior) até 95% de
seus ganhos anuais, como forma de reduzir endividamentos e de compensar queda
na receita em países menos performáticos; a TIM e a Vivo, por exemplo, enviaram
para suas matrizes cerca de R$ 15 bilhões desde 2009; ao mesmo tempo, continuam
liderando reclamações na Anatel e enfrentando dificuldades em ampliar
capacidade da rede de dados”.
Não tirei essa informação de nenhum órgão da imprensa golpista, mas,
sim, do blog Brasil 247, espécie de porta-voz do governo que o ministro
integra. Era de se esperar, portanto, que o ministro, como homem de esquerda
que diz ser, demonstrasse um pouco menos de amor pelas teles e um pouco mais de
amor pelos trabalhadores, que tanto dependem do WhatsApp. Também era de se
esperar que notasse que, há tempos, as operadoras cobram dos cidadãos contas
cada vez maiores por serviços cada vez piores, o que justifica em boa parte o
sucesso do aplicativo. Até outro dia, homens de esquerda defendiam pessoas
físicas da sanha de pessoas jurídicas; mas isso, claro, era na época em que a
esquerda ficava à esquerda, e não à direita da direita, como fica hoje.
O ministro Berzoini argumenta que “esse tipo de serviço subtrai empregos
do povo brasileiro”. Pelo visto, ele ainda não entendeu que emprego não é
necessariamente sinônimo de trabalho, nem reparou como tecnologias como o
WhatsApp ajudam todos os trabalhadores, indistintamente — coisa que qualquer
pessoa percebe no dia a dia, ao se comunicar com o mecânico, o feirante, o
marceneiro ou a costureira, para ficar nuns poucos exemplos.
Ninguém pode criticar o ministro por ignorar a realidade. Militando no
PT, alçado àquela elite política que tem todas as despesas pagas e todos os
problemas cotidianos resolvidos, ele certamente não vê um trabalhador de perto
há anos — e não precisa do WhatsApp para nada.
Coluna: Cora Rónai
Com: O Globo