Padre faz artigo sobre fechamento do HSFA


Desde quando tomei conhecimento da carta com que os Camilianos anunciaram o fechamento do hospital São Francisco para o dia 30 de abril, esta pergunta ressoa insistentemente na minha cabeça: quem quer fechar este hospital, o primeiro do sul do Maranhão? Por que se quer fecha-lo? A pergunta não é retórica, nem banal, porque na caminhada da minha a vida aprendi que é “a verdade que nos liberta” ou, usando uma linguagem mais cabocla, “se deve dar o nome aos bois”.
Assim foi que, conduzido por esta pergunta, comecei minhas indagações. Em primeiro lugar, um pouco ingenuamente, não acreditando na notícia, assim como não acreditava na renúncia do Papa, fui perguntando às pessoas que ia encontrando, ao povo da rua, como se diz. A maioria ainda não sabia desta triste notícia e achava que fosse a última brincadeira do carnaval, até fora de época. Mas toda vez que eu insistia dizendo que, infelizmente, isso é verdade, todo mundo, no sentido literal das palavras, acha isso um absurdo; a maior falta de respeito a uma das personalidades mais respeitadas e veneradas na cidade de Grajaú: frei Alberto Beretta. Algumas pessoas mais idosas, pela emoção tão forte, quase não conseguiam segurar a emoção e já as lágrimas queriam correr nos olhos delas.
Tentando ir além das emoções e tentando ver a questão de um lado mais racional, ou melhor económico, procurei o Diretor Administrativo do hospital, o qual me explicou que o mesmo precisa de um repasse de R$ 280.000,00 por mês para funcionar, sendo que R$ 100.000,00 são para a folha de pagamento dos funcionários. Rapaz, para nós pobres mortais é muito dinheiro! É ou não é? Mas, para ter uma ideia realística deste problema, deveríamos logo nos perguntar: quanto dinheiro público recebem os outros dois hospitais da cidade? No caso, alguém viu uma prestação de conta transparente do nosso Hospital Geral, administrado pelo Estado do Maranhão? Se um dia, por milagre, isso acontecer descobriríamos que o São Francisco, de muito, é o mais econômico. Ainda, por que do nada foi criado o Hospital Geral, quando, modernizando os dois existentes, teria custado muito menos? Qual é o projeto político que está atrás de tudo isso?
Por tudo isso, estas reflexões não têm nada de partidário ou polêmico com a atual Administração política da cidade de Grajaú. É uma evidência incontestável que a divida com o São Francisco de R$ 1.600.000,00, acumuladas pelas administrações anteriores, não pode ser imputada a atual Prefeitura. Ao mesmo tempo, porém, aparece pelo menos esquisita a decisão da atual Secretária da Saúde de transferir para o “Santa Neuza” uma boa parte dos recursos, para os atendimentos de ambulatório, aqueles que constituem a “produção” de uma estrutura hospitalar; ou seja, aos poucos, estes atendimentos estão sendo transferidos para este hospital particular, quando a Lei 8080/90 do SUS art. 25 estabelece, de forma bem clara, que, quando as estruturas do SUS não podem satisfazer às necessidades do território, os pacientesdevem (não podem), devem ser encaminhados prioritariamente para as entidades filantrópicas, como é o caso do Hospital São Francisco. Por que está tendo esta transferência? Será que o São Francisco não estava dando um bom atendimento? Será que não estava prestando conta dos atendimentos realizados? Nada disso! E então, qual é o sentido desta decisão? Se formos pensar bem, tudo isso é como quando alguém tira a comida da boca de uma pessoa que já está doente. Será que o cara tem chance de ficar bom?
Finalizando esta minha reflexão, o que me interessa e interessa à população desta região do Maranhão é saber qual é a intenção e a opção política da atual Prefeitura de Grajaú para com o Hospital São Francisco, tendo em conta que ele é um hospital eficiente, transparente e moderno. Concretamente não entendemos este processo de “lenta eutanásia”, que está acontecendo há uns anos para com ele. Pegando emprestado um exemplo quaresmal, ninguém mais aceita de dizer que Jesus simplesmente morreu, como pode morrer qualquer um de nós por idade ou por doença; na verdade Ele foi morto por aqueles que foram incomodados por Ele. Do mesmo jeito, com certeza, ninguém em Grajaú irá aceitar a simples declaração “o hospital São Francisco morreu”, porque para todo mundo será claro que ele foi morto.
Por isso, celebrando os duzentos anos da fundação de Grajaú, queremos saber quem são aqueles que querem ficar na história da cidade como os que o mataram.

Nesta terça-feira (11) em uma reunião geral na Câmara municipal de Grajaú,  foi decidido pelo fechamento do Hospital, os camilianos não querem mais acordos e as portas do HSFA foram batidas.
Artigo do Coordenador Diocesano das Pastorais Sociais da Diocese de Grajaú, Pe. Marcos Bassani aos 26 de fevereiro de 2013.
Pitacosdomatias.com


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