Na tarde do domingo (10/11), morreu o ex-prefeito de
Grajaú-MA, Carlos Neto. Neste momento de comoção, lembramos a vida e as obras
realizadas por este grajauense que colaborou para o processo de desenvolvimento
da Rica Pérola do Maranhão.
Confira abaixo um pouco da história do Prefeito
Carlos Neto, o gestor que deu início ao desenvolvimento deste município.
Publicada no “Jornal Grajaú Hoje”, do advogado Juarez Mundoca em fevereiro de
2011, o relato é fruto de uma rica entrevista concedida ao jornalista e primo
Wagner Akashi.
Prefeito Carlos Neto: o começo do desenvolvimento
CARLOS NETO, nasceu em 21 de novembro de 1929. É
filho do legendário Coronel Felipe de Barros Lima, que foi casado com Eva
Adwincula de Barros, mãe do nosso personagem e neta do Coronel Salomão Barros.
A história do Carrinho se confunde com a de seu pai, um dos últimos coronéis de
patente adquirida por mérito de relevância em serviços prestados à nação.
O Coronel Felipe Lima, foi agraciado com a patente,
pelo mérito de ter interferido no conflito protagonizado pelo General Juarez
Távora que veio aportar em nosso município em 1930, comandando uma coluna de
soldados, e fez acampamento no Ponto da Nêga. Ali foi abordado em missão
pacificadora pelo Coronel Felipe Lima que teria recebido a ordem do Chefe de
Polícia da Capital. Felipe Lima acompanhou o General até Barra do Corda, a
cavalo, de lá seguiu de lancha até Pedreiras de onde foi por via terrestre até
São Luís. Da Capital, voltou com a farda, e a patente de Coronel, agraciado por
relevantes serviços prestados à Nação Brasileira.
Político por vocação, Felipe Lima que era também
advogado provisionado, governou nosso município por duas vezes. No primeiro
mandato, dos anos de 1931 a 1937, e depois de 1944 a 1945.
A vocação para a política do Carrinho, certamente é
herança. Desde criança convivendo numa casa onde se respirava política, tentou
ser comerciante. Trabalhou durante 15 anos no comércio do senhor Zezé Santos.
Como homem de confiança do grande empresário da época, chegou a ser gerente de
uma filial no município de Vitorino Freire, mas não deslanchou nesse setor.
Como pecuarista também teve incursão tímida. Apenas para manter a tradição de
família mantém ainda hoje a fazenda Santos Reis, menina dos olhos da Melita,
sua mulher, musa inspiradora das suas ações e sustentáculo nos momentos
difíceis por que passa o político. O seu negócio era outro. A política.
Grande chefe político da época, o Coronel Felipe
Lima interferia nas decisões. Assim, em 1955, quando do lançamento do candidato
Raimundo Simas para prefeito de Grajaú, os grupos se uniram e o lançaram
candidato único, ficando acordado que o próximo candidato seria indicado pelo
Coronel Felipe Lima, e também seria candidato único.
Logo, em 1960 foi cobrado o acordo, e Carlos Neto, o
nosso Carrinho seria candidato único. Acontece que o grupo não cumpriu o acordo
e lançou o professor Hilton Nunes como candidato da situação. O Carrinho foi
candidato da oposição comandada pelo Coronel Felipe Lima.
A campanha foi das mais intensas. Carrinho e o
coronel Felipe Lima contra todas as forças do poder, percorreu todo o município
que englobava inclusive o hoje município de Sítio Novo, levando o seu programa
de governo e suas metas. Considerando a eleição perdida, o próprio candidato a
vice-prefeito na chapa do Carlos Neto, Sr. Cesaltino Mota, que era de Sítio
Novo, abandonou o barco e foi fazer campanha no palanque da outra chapa. Só que
ele foi, para o outro lado, mais o povo não o acompanhou. Na urna do Sítio Novo
Carlos Neto obteve maioria de 12 votos. Foram momentos de grande dificuldade,
narrados com emoção pelo Carrinho.
Transcorrida a eleição, vem a apuração. Batendo
chapa urna a urna, a vantagem era: ora 3 votos para um, ora 2 votos para o
outro, até que na última urna apurada, onde a maioria era de eleitores da Serra
Negra, o Carrinho botou uma vantagem de 92 votos e ganhou a eleição, derrotando
o Professor Hilton Nunes.
Assumindo a prefeitura em janeiro de 1961, vieram os
trabalhos para cumprir os compromissos de campanha. Os primeiros e principais
foram: Emancipar o Sítio Novo e Descobrir a Serra Negra. A emancipação do Sítio
Novo aconteceu em 1961, tendo sido indicado interventor para implantar o novo
município o Sr. Leontino Nascimento. Ao mesmo tempo trabalhava-se na abertura
da estrada para a Serra Negra que foi concluída em 1963. Nesse momento chegavam
ao longínquo sertão as condições para o desenvolvimento e o surgimento do
povoado da Formosa, que teve como primeiros moradores: João da Mata, Manoel
Altino, José Cazuza, Genésio Francisco da Silva, Domingos Milhomem, e
Patrocínio Milhomem, pai do atual prefeito da Formosa da Serra Negra, que eram
os donos de terra no lugar. Em seguida, a Prefeitura adquiriu mais terras e
houve o surgimento do povoado e o desenvolvimento, movido pela estrada, que
logo passou até Fortaleza dos Nogueiras, abrindo ainda mais as fronteiras do
progresso. Foi também no governo do Carlos Neto que abriu-se a estrada que
ligou o São Pedro à Itaipava.
Ainda no mandato do Carlos Neto foram feitas gestões
que culminaram com a instalação da agência do Banco do Brasil em Grajaú. Lembra
ele que, como naquela época não havia um prédio adequado para a instalação da
agência bancária, a própria Prefeitura foi deslocada, para ceder lugar à
instalação da agência bancária, pois foi o único local adequado, de acordo com
as exigências dos funcionários que vieram para instalar o Banco. O local é
aquele onde funcionou até pouco tempo a Secretaria de Cultura, na rua 7 de
Setembro, cujo prédio foi demolido recentemente.
Foi no governo do Carlos Neto que instalaram-se os
primeiros canos para o abastecimento domiciliar de água, que era captada no
Olho D’água, na Trezidela. Toda a Cidade foi beneficiada com a distribuição de
água. Naquele período também foi construído o Clube Recreativo Cultural
Grajauense.
O Governador do Estado, Newton de Barros Bello,
durante o mandato do Carlos Neto veio a Grajaú três vezes. Numa dessas viagens,
vendo que a cidade necessitava de um local adequado para a realização de
eventos, pediu que se formasse uma associação e doou o dinheiro para a
construção do Clube. Era presidente da Associação o Sr. Iran Guará, que foi o
responsável pela aplicação dos recursos e construiu o nosso belo Clube
Recreativo.
Em 1963, Carrinho casou-se com dona Maria Amélia
Teixeira Lima, a Tia Melita, filha do saudoso Zeca Teixeira, intelectual ligado
às artes e ao folclore, que foi inclusive Juiz de Paz, por muito tempo em nossa
Cidade, e de Inês Barros Teixeira, que era filha de João Moreira Barros, o
primeiro Coletor Federal de Grajaú, e neta do Coronel Salomão Barros.
Foi também o Carlos Neto que iniciou a “Avenida”.
Obra desejada por toda a sociedade grajauense e idealizada pelo bispo Dom
Emiliano José Lonati, com o intuito de embelezar a frente da Catedral. A prefeitura
indenizou as três casas existentes no local. Uma era do Sr. Raimundo Nava, onde
funcionava o Cartório, outra era casa do Sr. Antonio Gonçalves, onde
funcionavam os Correios e a terceira era da União Artística Operária
Grajauense, que tinha como presidente o Sr. José Nascimento Lima. Lembra o
ex-prefeito, que os três prédios custaram na época, os recursos equivalentes a
um ano de repasses da Prefeitura. Foi um esforço gigantesco, pois a prefeitura
recebia dinheiro uma vez por ano, somente.
Foi também o Carlos Neto que iniciou a expansão da
Cidade, abrindo a Rua do Limoeiro, que se inicia em frente ao cemitério, e daí
por diante.
Terminado o mandato em 1964, voltaria ao poder em
primeiro de janeiro de 1983, como vice-prefeito na chapa do Prefeito Mercial
Lima de Arruda, depois de 19 anos mantendo um grupo de oposição combativa, mas
sem ganhar eleição.
Hoje, sobre a experiência dos seus 81 anos, continua
no grupo político que está no poder. Quem quiser obter lições de vida na
política e na administração, encontra no Gabinete do Prefeito de Grajaú, onde o
Carrinho é Consultor e está diariamente nos dois expedientes.
Foto de Carlos Neto no Mural do Ex-prefeitos de Grajaú (Francisco Matias/Grajaú de Fato)