O governo golpista ao indicar o
madeireiro Silvério Fernandes para comandar o Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) da região do Xingu (Pará) demonstra que a política de
estado para o próximos período será de grande ataque aos movimentos dos sem
terras.
O latifundiário é o principal articulador da perseguição política
que Padre José Amaro Lopes de Souza sofre há 1 ano, no estilo Lava Jato, é
acusado de liderar organização criminosa destinada a invasão de terras. Padre
Amaro, sucessor de Irmã Dorothy, assassinada em 2005, ficou preso por 92 dias,
vítima de ataques difamatórios e de ameaças. O centro deste conflito é o lote
44, área equivalente a 3 mil campos de futebol que está em disputa judicial.
Silvério Fernandes é presidente do Sindicato Rural de Anapu,
esteve envolvido no esquema conhecido como Máfia da Sudam no final da década de
1990 e condenado a pagar multas de 28 milhões. O vice-prefeito eleito de
Altamira, em chapa encabeça por tucano, em 2008, foi candidato a deputado
estadual derrotado, nas últimas eleições, e um dos principais cabos eleitorais
de Bolsonaro. A cidade contou com outdoor de agradecimento pelos votos
conquistados e fotografia deles abraçados.
A história da Família Fernandes e seus conflitos em Anapu começam
na década de 1970 com a “compra” de terras que haviam sido conquistadas pelos
trabalhadores, em pleno governo dos militares, entretanto, os títulos de posse
concedidos eram provisórios e seriam efetivados desde que as propriedades se
tornassem produtivas, o que não aconteceu. Assim, aqueles que se diziam donos
dessas terras deram início as vendas e os principais compradores, entre eles a
família Fernandes, começaram a derrubada da floresta e a extração de madeira.
Em 2003, foram oficializados os primeiros assentamentos de
trabalhadores rurais, e dois anos depois, Dorothy Stang, missionária
estadunidense que veio para o Brasil em 1983 com objetivo de lutar por essas terras
para a reforma agrária, foi assassinada com seis tiros. Irmã Dorothy teve sua
morte encomendada por Regivaldo Pereira de Souza, o Taradão, que “comprou” um
terreno da família Fernandes, que estava compreendido no projeto de reforma
agrária de Dorothy, e Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, que “comprou” o
terreno de Taradão. Délio Fernandes, irmão de Silvério, que escondou Taradão em
sua fazenda após o crime, não foi sequer julgado por participação na morte da
missionária.
Em outubro de 2016, os trabalhadores que estavam acampados na
fazenda Santa Maria, tiveram suas barracas incendiadas. Os irmãos Silvério e
Luciano Fernandes dizem que são donos do lote 44 e foram denunciados ao
Ministério Público pelo atentado. A posse desta área, equivalente a 3 mil campos
de futebol, está em disputa na justiça de Altamira que acatou o pedido do Incra
e do Ministério Público Federal de destinação para a reforma agrária, mas a
família Fernandes recorre a decisão.
Em março de 2017, Márcio Rodrigues do Reis, o principal acusador
dos incendiários, foi preso por invasão de propriedade e porte de arma enquanto
tentava reconstruir o acampamento, Silvério acompanhava a operação policial.
Em janeiro de 2018, Valdemir Resplandes dos Santos, que também
acusava os Fernandes pelo incêndio, foi assassinado assim como dois familiares
dele e uma testemunha do crime. Nós últimos três anos, uma cruz vermelha
cravada no chão, ao lado da sepultura de Dorothy Stang, coleciona 16 nomes de
trabalhadores rurais assassinados.
Padre Amaro, esteve ao lado da Irmã Dorothy desde 1998, é membro
da Comissão Pastoral da Terra – CPT e braço direito da igreja católica na
articulação com trabalhadores rurais. A operação “Eça de Queiroz”, referência
ao escritor da obra “O crime do padre Amaro”, resultou na prisão do padre em
março do ano passado, que teve habeas corpus aceito em junho do mesmo ano de
2018. Amaro esteve 92 dias na mesma prisão onde está o Taradão. Por isso,
desconfia que armaram para matá-lo. O Padre diz temer caminhar sozinho e não
esconde angústia sobre seu futuro incerto.
Amaro é vítima de perseguição política, acusado de crimes de
associação criminosa, ameaça, extorsão, invasão de propriedade e lavagem de
dinheiro. Ele ainda deverá ser interrogado mais uma vez este ano e sentenciado.
O Padre diz que após o término do processo pedirá danos morais.
“Ao invés de assassiná-lo,
encontraram uma forma de desmoralizá-lo atacando sua imagem e criminalizando-o
e, assim, conseguirem retirá-lo do município de Anapu”, declara, em nota,
a CPT.
Diante do abuso de declarações
fascistas de que é preciso combater os criminosos invasores de terras e de que
Anapu virou lugar de bandidos, é urgente a organização de comitês de luta e de
autodefesa tanto no campo como na cidade. Os trabalhadores do campo precisam se
organizar e não podem permitir que o Padre Amaro se torne um preso político. É
preciso que os trabalhadores se mobilizem e mostrem grande força. NÃO
A PRISÃO DO PADRE AMARO!