O novo presidente da Petrobras,
Aldemir Bendine, disse que teve no Banco do Brasil "total liberdade e
autonomia para trabalhar" e que isso se manterá agora na petroleira. A
afirmação foi feita em entrevista ao Jornal Nacional, divulgada na noite desta
terça-feira (10).
O mercado reagiu mal após o anúncio de que Bendine, então
presidente do BB, assumiria o lugar de Graça Foster na petroleira.
Bendine é visto como um "fiel escudeiro do PT" e
analistas avaliam que, durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, o Banco do
Brasil foi "absolutamente comandado pelo governo", que forçou uma
queda nas taxas de juros. Houve também críticas pelo fato de ele não ter
conhecimentos sobre o setor de petróleo.
A estatal enfrenta um escândalo
bilionário de corrupção, investigado pela operação Lava Jato, e tem tido dificuldades para quantificar os
prejuízos com fraudes em contratos de obras durante anos.
Balanço X corrupção
Perguntando sobre como serão feitos os "descontos" da
corrupção no balanço da companhia, o novo presidente disse que a empresa está
"reavaliando uma série de ativos" e que o balanço "vai refletir
a situação atual da empresa em 2014".
"Nós estamos reavaliando uma série de ativos e as metolodogias
empregadas. A gente há que separar e deixar bem claro, que esse balanço vai
refletir a situação atual da empresa em 2014. Ela pode estar sendo influenciada
sim pela corrupção, mas também por uma série de outras variáveis, como o preço
da commodities", disse na entrevista.
A Petrobras divulgou o balanço não auditado do terceiro trimestre de
2014 sem incluir as esperadas baixa contábeis relacionadas às denúncias de
corrupção da operação Lava Jato, em meio à dificuldade de se estabelecer
valores incontestáveis enquanto o processo ainda corre na Justiça.
Na entrevista, Bendine disse, ainda, que o mais importante para a
Petrobras é fazer a gestão de caixa e financeira, e que o endividamento da
empresa "não é tão elevado".
Preço da gasolina
Bendine disse que a Petrobras "tem mais liberdade para gerenciar o
preço de combustíveis", mas que a estatal "nunca vai se sujeitar à
volatilidade do mercado internacional".
A Petrobras compra combustíveis no exterior e revende-os no Brasil por
um preço controlado pelo governo, sócio majoritário da empresa. O governo faz
isso na tentativa de conter a inflação no país, mas essa diferença afeta as
contas da estatal.
Apelo aos pequenos
acionistas
Em um recado aos pequenos acionistas da Petrobras, Bendine pediu que
"continuem a acreditar na companhia".
Segundo ele, a estatal "está passando por uma dificuldade",
mas "tem uma capacidade de geração de valores para os acionistas e para a
sociedade brasileira".
Empréstimo a Val
Marchiori
Bendine foi acusado de favorecer a
socialite Val Marchori em concessão de empréstimo quando presidia o Banco do
Brasil, e o caso deve ser investigado pelo Ministério Público e
pela Polícia Federal.
Sobre isso, disse que são "denúncias vazias" e que isso é
"muito comum" ser alvo desse tipo de acusação quando se está em
cargos como o que ele ocupava.
Marchiori conseguiu um empréstimo de
R$ 2,7 milhões no banco, a partir de uma linha subsidiada do BNDES, mesmo sem
ter pago um empréstimo anterior e sem ter capacidade financeira para obtê-lo,
segundo reportagem da Folha de S.Paulo.
Isso só foi possível devido a uma operação incomum feita especificamente
para que a socialite conseguisse os recursos.
Segundo o jornal, Bendine é amigo de Marchiori e os dois estiveram
juntos em compromissos oficiais do banco na Argentina e no Rio de Janeiro.
O executivo negou as acusações e disse que o empréstimo
seguiu todas as normas do BB.