O
indígena Nico Alfredo Guajajara segue em estado grave após ser alvo de tiros
durante um ataque na BR-226 em Jenipapo dos Vieiras, a 350 km de São Luís. Ele
deu entrada no Hospital Macrorregional de Presidente Dutra na noite de sábado
(7), onde foi submetido a uma laparotomia exploratória e à correção de lesões
na bexiga e intestino. Nico segue internado e sem previsão de alta.
Já o outro líder indígena, Nelsi Guajajara, foi encaminhado à Unidade
de Pronto Atendimento (UPA) de Barra do Corda, corresponde bem ao tratamento e
está com previsão de alta hospitalar ainda neste domingo (8). Ele recebeu um
tiro na perna e conta em um vídeo (veja abaixo) que foi
surpreendido por um veículo de cor branca que disparou diversas vezes contra a
motocicleta onde ele e Firmino Guajajara estavam.
Firmino
Guajajara morreu durante o ataque, junto com Raimundo Bernice Guajajara. Os corpos devem ser
liberados pelo Instituto Médico Legal nesta segunda (9) para velório e enterro.
Para a
Funai, o ataque ocorreu logo depois dos índios saírem da aldeia Coquinho, onde
lideranças de várias aldeias se reuniam com representantes da Eletronorte para
tratar da compensação aos índios pela passagem do linhão de energia elétrica
dentro das terras indígenas.
Antes da Polícia Federal chegar ao local, as polícias Civil e Militar
fizeram buscas pela área e regiões próximas, mas até o momento ninguém foi
preso.
A Polícia Civil do Maranhão começou a repassar para a Polícia Federal o
material levantado no local do atentado. Segundo o superintendente de Polícia
Civil do Interior (SPCI), Guilherme Campelo, uma equipe da PF já está
trabalhando no caso.
"Realizamos
os primeiros levantamentos e requisição de perícia, bem como apreensão de uma
motocicleta, que estava em um dos locais de crime com um projétil alojado nela
e foi recolhida para perícia. Produzimos um relatório e repassamos à PF, que já
chegou em Barra do Corda com uma equipe", disse Guilherme Campelo.
Além da Polícia Federal, a Força Nacional pode ser encaminhada para a
região, de
acordo com o que divulgou em uma rede social o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Para
Guaraci Mendes, coordenador da Fundação Nacional do Índio em Imperatriz (Funai), o
crime pode ter relação com os constantes assaltos registrados no trecho da
BR-226.
"Pessoas mal intencionadas se aproveitam da má preservação da BR
dentro do território (indígena) para cometer ilícitos. Aproveitam também a
falta de policiamento. Então isso (assaltos) acaba se associando à imagem dos
indígenas, e por conta disso eles (índios) vinham recebendo ameaças",
disse Guaraci Mendes.
Repercussão
A líder indígena Sônia Guajajara se manifestou
sobre o atentado e se solidarizou com os familiares das vítimas.
"É com profundo pesar e indignação que externo
meus mais sinceros e profundos sentimentos aos familiares de Firmino Silvino
Prexede Guajajara e Raimundo Guajajara que, neste momento, sentem a dor e a
tristeza de perderem pessoas queridas por tamanha brutalidade que hoje fez
novas vítimas dentre o Povo Guajajara" (veja vídeo abaixo de Sônia
Guajajara).
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), se manifestou por
meio de uma rede social e disse que as forças estaduais vão
auxiliar as autoridades federais no caso. Neste domingo (8), disse ainda que os
secretários de Segurança Pública e de Direitos Humanos já estão na região.
“Minha
solidariedade às vítimas de violência contra povos indígenas. As equipes
estaduais de segurança estão colaborando com as autoridades federais
competentes para questões indígenas. Policiais civis já em atuação”, escreveu o
governador.
O
presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB no Maranhão, Rafael Silva,
diz que o órgão está preocupado com o ataque que aconteceu um mês após o assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara.
“O que
nos preocupa é que nós temos políticas públicas a nível federal que são tomadas
que estão agravando essa situação de vulnerabilidade da existência dos povos
indígenas e da permanência em suas terras. Quando o estado passa a ser um
espaço de ameaça aos povos indígenas então estamos diante de uma situação que
chega perto do terror. É uma situação grave e que não pode ficar apenas na
esfera estadual. É necessário que a Polícia Federal atue de uma forma
contundente, estamos a pouco mais de um mês de outro assassinato brutal e esse
também há, evidentemente indícios que seja um crime de encomenda”, disse Rafael
Silva.
Índios protestam
Em
protesto, os índios Guajajaras fizeram um bloqueio na BR-226 em
Jenipapo dos Vieiras. De acordo com passageiros de um ônibus que trafegava pela
região, os índios teriam jogado pedras nas janelas dos ônibus.
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Com medo de
novos ataques, muitos motoristas estão parando no BR-226 e traçando novas rotas
para conseguir chegar aos seus destinos. De acordo com a Polícia Militar, a
situação no local ficou tensa e policiais foram para região para tentar conter
a manifestação.