O deputado estadual Frederico D’Avila (PSL) ficou incomodado com sermão proferido pelo arcebispo do Santuário de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, no dia 12, quando o Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou de cerimônia no local e foi acusado por 400 padres e 10 bispos de “profanação do Santuário para fins eleitoreiros”.
O parlamentar considerou o sermão um
“recadinho para o presidente e para a população brasileira”. O arcebispo
defendeu a vacinação em massa contra a pandemia de covid-19, condenou discursos
de ódio e alertou sobre a política armamentista. “Pátria amada não é pátria
armada”, disse Dom Orlando.
Dois dias depois, no dia 14,
D’Avila, que é bolsonarista, usou tribuna da Assembleia Legislativa do Estado
de São Paulo (Alesp) para rebater: “pátria amada é a que não se submete a essa
gentalha, seu safado”. Na ocasião, também atacou bispos e ao próprio Papa
Francisco, quando utilizou adjetivos como “safados”, “vagabundos”, “imundos” e
“pedófilos”.
Manifestação da Alesp
O presidente da Alesp, Carlão
Pignatari (PSDB), na abertura da sessão plenária da tarde desta segunda-feira,
18, disse repudiar toda palavra que vá além da crítica e que se constitua em
ataques que extrapolem os limites da liberdade de expressão e da imunidade
parlamentar.
Carlão destacou ainda que as
manifestações do deputado D’Avila foram antirregimentais e determinou a
retirada das notas taquigráficas as ofensas proferidas à CNBB, ao arcebispo de
Aparecida e ao Papa Francisco. Pignatari leu integralmente a Carta Aberta entregue pela
CNBB, que lhe foi entregue momentos antes pelo bispo de Mogi das
Cruzes (e presidente da Regional Sul 1 – Estado de São Paulo – da CNBB),
dom Pedro Luiz Stringhini.
Pedido de desculpas
Na mesma sessão, o deputado
D’Avila pediu desculpas por seu pronunciamento contra os bispos e o Papa
Francisco. Alegou ter sido inflamado por problemas pessoais ocorridos nos dias
anteriores. “Meu pronunciamento foi inapropriado, exagerado, descabido e
infeliz”, disse.
Carta da CNBB
A presidência da CNBB divulgou
na manhã do último domingo, 17 de outubro, uma Carta Aberta dirigida ao
presidente da Alesp. No documento, a CNBB rejeita “fortemente as abomináveis
agressões” proferidas da Tribuna da Alesp pelo deputado estadual Frederico
D’Avila no último dia 14 de outubro.
O político, diz a carta, agiu com
ódio descontrolado e desferiu ataques ao Santo Padre o Papa Francisco, à
própria CNBB e ao arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes.
A CNBB defende que, com esta
atitude, o deputado “feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer
imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes” e vai buscar uma
reparação jurídica a ser corrigida “pelo bem da democracia brasileira”.
Quebra de decoro
Além de uma Carta Aberta da CNBB,
uma representação foi protocolada no Conselho de Ética da Alesp contra D’Avila
pelo deputado Emídio de Souza (PT), que é presidente da Comissão de Direitos
Humanos. “D’Avila quebrou o decoro parlamentar em sua odiosa agressão ao Papa,
ao arcebispo e à CNBB. Também oficiei o presidente da Alesp pedindo
providências. Isso não pode ficar impune!”, protesta Emídio.
Repúdio da Opus Dei
Nem mesmo a Opus Dei – organização
católica identificada com pensamentos políticos de direita –, poupou o deputado
que já elogiou o movimento.
Em nota,
assinada pelo Pe. Fábio Henrique Carvalheiro, vigário regional da Prelazia no
Brasil, a Opus Dei repudiou as falas do deputado e declarou “veneração pelo
Santo Padre e união ao colégio episcopal e à CNBB”.
Vaticano
A Nunciatura Apostólica da Santa Sé
no Brasil, representação diplomática do Vaticano, informou ao Extra Classe que
não irá se pronunciar sobre o assunto que já está sendo conduzido pela CNBB.
Homenagem a Pinochet e fake news
Frederico D’Avila está em seu
primeiro mandato. Em novembro de 2019 ele já tinha causado polêmica ao
propor um ato solene na Alesp em memória de Augusto Pinochet, ditador do
Chile entre 1973 e 1990. Pinochet chegou a ser preso por graves violações aos
direitos humanos durante o seu governo, como tortura, assassinatos e
desaparecimento de opositores do seu regime.
Com reação negativa, a atividade que
ocorreria em dezembro foi barrada pelo então o presidente da Assembleia
paulista, Cauê Macris (PSDB). Na ocasião, o embaixador do Chile no
Brasil, Fernando Schmidt, classificou como lamentável a realização do
ato.
Mas a homenagem a Pinochet não foi a
primeira polêmica de D’Avila. Em agosto de 2019, ele distribuiu um vídeo
com uma fake news sobre o pai do presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil(OAB), Felipe Santa Cruz. O post que induzia pessoas a
acreditar que Fernando Santa Cruz, como chegou a falar o presidente Jair
Bolsonaro, teria sido morto pela esquerda chegou a alcançar 75 mil
visualizações.