BOMBA: Sergio Moro chantageava desembargadores com vídeos da festa de cueca
O testemunho surge em momento
oportuno, em virtude do inquérito do Conselho Nacional de Justiça, que visa
investigar os excessos e ilegalidades da Lava Jato. O empresário Tony Garcia deu uma entrevista à TV 247,
nesta sexta 2 de junho, que significa o enterro moral da breve carreira
parlamentar de Sergio Moro.
Depois desse depoimento, prestado com uma
incrível carga de emoção, coragem, franqueza, o ex-ministro de Bolsonaro e
ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, pode até sobreviver politicamente,
ancorado no papel de liderança de extrema-direita, mas é um fantasma moral, um
dos mais repugnantes e sórdidos vilões da história do nosso judiciário.
Se ainda houver algum senso de decência nas
altas instâncias judiciais do país, Sergio Moro será cassado, e rápido.
A entrevista de Garcia oferece um retrato inquietante,
sinistro, maligno, de Sergio Moro, bem mais do que as percepções anteriores
poderiam sugerir.
Segundo Garcia, antes de se tornar a figura
central da “Operação Lava Jato”, o ex-magistrado da 13ª Vara de Curitiba
exercia o comando de uma organização criminosa especializada em tortura
psicológica, coação de réus, manipulação de provas e testemunhos, e chantagem a
instâncias judiciais superiores.
Garcia não é um informante qualquer. Oriundo de uma
família rica do estado, ele frequentava círculos de poder desde os vinte anos
de idade, como revela, referindo-se a sua convivência com políticos e
empresários de alto escalão.
O empresário declara que Moro o converteu,
mediante ameaças de detenção e multas pesadas, um agente a serviço de seus
intentos mais abjetos.
Dez anos antes do início da Lava Jato, Moro já tinha
descoberto a forma de controlar as instâncias judiciais superiores,
encarregadas da revisão e eventual anulação de suas decisões.
A tática utilizada por Moro pode ser
resumida em uma palavra: chantagem.
Com o auxílio de Tony Garcia, o juiz obteve
informações comprometedoras sobre desembargadores do TRF4 e do STJ. Ao invés de
denunciar tais indivíduos ao Conselho Nacional de Justiça, utilizou os dados
coletados para pressioná-los a agir em conformidade com seus interesses.
“Eu sou o criminoso aqui?”, indaga o
empresário várias vezes durante a entrevista ao canal 247, respondendo a
agressões recentes feitas por Moro, após entrevista de Garcia a um órgão de
imprensa. Ele reitera que, embora ciente do universo sombrio das altas esferas
da política, nada se compara às práticas repugnantes, violentas, imundas de
Sergio Moro e procuradores de Curitiba.
Garcia relata que a conivência entre Moro e os
procuradores da Lava Jato iniciou-se nos anos de 2000, ou mesmo antes. Membros
do Poder Judiciário e do Ministério Público se uniram em Curitiba para tornar
suas chantagens mais eficazes.
Segundo Garcia, em duas ocasiões ele foi
“recrutado” por Sergio Moro. Nesse aspecto, sua história se assemelha um pouco
à de Alberto Yousseff, que também se tornou, duas ou mais vezes, um “agente” do
juiz da Lava Jato.
O relato de Garcia apresenta um lado humano
profundamente angustiante, envolvendo tortura psicológica e uma perseguição
covarde, que durou décadas. O empresário admite, com emoção, que durante mais
de vinte anos foi um “prisioneiro” de Sergio Moro.
Garcia era submetido a detenções
indeterminadas, por semanas ou meses, além de ser alvo de multas elevadas, que
ameaçavam o patrimônio de sua família.
O empresário narra que, uma década antes da Lava Jato,
seus testemunhos a Moro eram continuamente manipulados pelo próprio juiz. Moro
só aceitava revelações que se ajustassem à versão dos fatos que interessava à
acusação, um procedimento que foi replicado na operação iniciada em 2014.
“Quando eu dizia algo que não estava de
acordo com o que ele queria ouvir, conta Garcia, ele desligava o gravador,
apagava o trecho e sugería que eu conversasse um pouco com meus advogados para
reformular a história.”
Moro continuamente ameaçava Garcia com
novos castigos, caso não o obedecesse, e o coagia a não revelar nada para seus
próprios advogados.
Garcia logo compreendeu o jogo e,
sentindo-se extremamente vulnerável, decidiu se tornar parte da trama nefasta
de Moro.
Ele decidiu agora trazer à tona todas essas
revelações devido às reviravoltas recentes em Curitiba, com a remoção do juiz
Eduardo Appio e o retorno de Gabriela Hardt, “pau mandado de Moro”, nas suas
palavras, à 13ª Vara.
O empresário explica que, em 2021, ele
decidiu prestar um depoimento completo e honesto à Hardt, relatando tudo o que
sabia sobre as irregularidades e abusos de Moro e seus comparsas no Ministério
Público. Entretanto, a juíza não apenas arquivou suas denúncias, como também
demonstrou ser aliada daqueles que Garcia tinha denunciado, decidindo romper o
“acordo” feito, anos antes, entre Garcia e a justiça.
Garcia percebeu que, mesmo após vinte anos
de submissão aos abusos de Moro, continuaria sendo prisioneiro, e que sua única
chance de se emancipar seria expor tudo à imprensa.
“O Brasil precisa saber o que aconteceu”,
Garcia reiterou durante a entrevista, acrescentando que esses fatos permitiriam
revisar a história recente do Brasil.
Garcia admite que os reveses da Lava Jato,
iniciados pelas revelações de conversas no Telegram entre procuradores, seguido
pela liberdade de Lula, e consumados pela vitória eleitoral de 2022, lhe deram
coragem para se libertar do medo.
Uma das histórias perturbadoras relatadas
por Garcia diz respeito a uma “festa da cueca”, que contou com a participação
de desembargadores e profissionais do sexo, em uma suíte presidencial de um
renomado hotel em Curitiba. Um amigo advogado de Garcia teria gravado a
presença das autoridades nessa festa. Moro soube dessa festa, através de um de
seus “agentes”, e com a ajuda de Garcia, conseguiu localizar os vídeos no
apartamento do advogado em São Paulo. Garcia relata que Moro confirmou ter
encontrado o material. No entanto, os vídeos nunca foram anexados a qualquer
processo, e Garcia suspeita que podem ter sido utilizados para chantagear
desembargadores do TRF4. ”
Outra revelação surpreendente de Garcia, em
seu depoimento ao 247, trata de uma entrevista à Veja feita em 2006, cujo
conteúdo foi combinado e forjado da maneira mais ignóbil. O repórter da Veja o
abordou, lembra Garcia, com ameaças veladas e menções às autoridades de
Curitiba. Garcia então liga para Sergio Moro, que o instrui a seguir as
orientações do jornalista, respondendo o que ele precisava ouvir. Eram tempos
de mensalão, e Garcia inventou um monte de histórias cabeludas contra José
Dirceu, Lula e o Partido dos Trabalhadores. Essa entrevista até hoje consta no
Wikipédia como “prova” do escândalo do mensalão.
O testemunho surge em um momento oportuno,
em virtude da recente instauração de um inquérito pelo Conselho Nacional de
Justiça, que visa investigar os excessos e ilegalidades da Lava Jato de Curitiba.
Garcia também trouxe detalhes obscenos de
negociatas envolvendo a articulação do impeachment de Dilma Rousseff. O
empresário pediu desculpas publicamente à ex-presidenta Dilma Rousseff por ter
participado dessas tramas.
A entrevista pode ser vista a partir do
minuto 3:12:00. O vídeo abaixo já está no ponto: