A PRF não conseguiu esconder os nomes dos asfixiadores de Genivaldo
OS CINCO
AGENTES que
registraram boletim de ocorrência policial pela detenção que resultou na morte
de Genivaldo de Jesus Santos numa viatura da Polícia Rodoviária Federal são
Clenilson José dos Santos, Paulo Rodolpho Lima Nascimento, Adeilton dos Santos
Nunes, William de Barros Noia e Kleber Nascimento Freitas.
Todos são agentes do Comando de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal no Sergipe e assumem, em documento oficial, compor a “equipe de motopoliciamento tático [que] efetuava policiamento e fiscalização” responsável pela detenção que terminou com a morte de Genivaldo. O caso ocorreu às margens da BR-101 em Umbaúba, Sergipe.
Como todo o Brasil pôde ver, três
agentes colocaram Genivaldo na cela localizada na traseira de uma viatura da
PRF, e um deles parece atirar uma bomba de gás no compartimento, o que faz
surgir uma nuvem de fumaça. Em seguida, seguraram a porta quase que
inteiramente fechada para que a vítima – e o gás – permanecesse
dentro do veículo. É possível ver as pernas de Genivaldo para fora, se
debatendo, e ouvir seus gritos de desespero.
Os agentes confessam no boletim que
usaram “espargidor de pimenta e gás lacrimogêneo”, em função da “agitação do
abordado”. Eram “tecnologias de menor potencial ofensivo”, garantiram.
Genivaldo, que sofria de esquizofrenia,
foi levado a um hospital, mas morreu em seguida. O laudo do Instituto Médico
Legal do Sergipe diz que a causa da morte foi insuficiência respiratória aguda
secundária à asfixia. O crime ocorreu ontem, 25 de maio, num trecho da BR-101
que corta Umbaúba, uma cidade no litoral sul sergipano localizada a 109
quilômetros da capital Aracaju.
O boletim de ocorrência registrado pelos policiais, de número 1510422220525111006, parece tratar de uma ocorrência diferente da registrada em vídeo – ainda que não seja o caso. O documento fala em emprego do uso “diferenciado da força”, que ao ver deles ocasionou uma “fatalidade desvinculada da ação policial legítima”. No documento, os policiais fizeram questão de registrar os “delitos” de “desobediência” e “resistência”.
Os agentes Clenilson José dos Santos,
Paulo Rodolpho Lima Nascimento, Adeilton dos Santos Nunes, William de Barros
Noia e Kleber Nascimento Freitas participavam de uma operação chamada Nordeste
Seguro quando prenderam Genivaldo. As imagens feitas por quem assistiu à
detenção revelam uma crueldade que é incompatível com o relato do boletim de
ocorrência.
As imagens disponíveis na internet são
repugnantes e não devem ser vistas por pessoas sensíveis. Não há resistência
por parte da vítima, cujo crime foi dirigir uma motocicleta sem capacete – algo
que o presidente da República fez há dois meses no Ceará.
Um dos agentes, Paulo Rodolpho Lima
Nascimento, participaria hoje de uma live com o tema “Trânsito: aspectos
jurídicos e de saúde mental ao volante”. O vídeo está indisponível.
Nesta quinta, 26 de maio, a população de
Umbaúba foi às ruas protestar contra a ação policial. Sem mencionar o caso, o
presidente Jair Bolsonaro postou em seu canal de Telegram nesta manhã um texto
elogioso à Polícia Rodoviária Federal.
Nele, afirmou que as “Forças Policiais e
de Segurança do Brasil (PRF, PF, polícias militares e civis e seus batalhões,
entre outras) têm trabalhado em prol da liberdade dos brasileiros de bem,
ordeiros e honestos”, e que “lamentam o sucesso das ações de segurança, apenas,
bandidos e comparsas”. Questionado sobre o caso em Sergipe, o presidente
desconversou e disse apenas que iria se “inteirar com a PRF”.
Além de causar a morte de Genivaldo no
Sergipe, a PRF também participou da chacina da Vila Cruzeiro, na Zona Norte do
Rio, a segunda maior da história da capital carioca.
Nós pedimos à PRF que confirmasse os nomes dos envolvidos
na morte de Genivaldo e qual a situação atual dos cinco agentes que assinam o
boletim de ocorrência. Por volta das 18h30, a corporação publicou nota em que diz ter afastado os envolvidos das
“atividades de policiamento”, mas não informou quem são eles. Diz, ainda, estar
colaborando com a investigação do caso.
The Intercept