Trabalho escravo e humilhação em carvoaria do Maranhão é destaque nas páginas nacionais

 


DO MARANHÃO — Era madrugada quando Davi voltou ao alojamento da carvoaria onde trabalhava, em Mirador, no interior do Maranhão. Na folga, bebeu em um bar nas proximidades da Terra Indígena Cana Brava e voltou alterado. Derrubou cadeiras, fez barulho, acordou os demais trabalhadores, inclusive o encarregado. 

O que se seguiu foi brutal.

“Ele [o gerente da carvoaria] arriou um murro na cara do rapaz, bateu a cabeça dele contra a pilastra e começou a espancá-lo com um cabo de vassoura”, descreve um trabalhador que afirma ter testemunhado a cena. 


O agressor teria então amarrado as mãos de Davi por trás das costas e o imobilizado diante dos colegas. Depois disso, teria fotografado a vítima e passado a exibir as imagens como prova de autoridade. “Ele dizia que ali era do jeito dele ou não era”, conta a testemunha. 

Os retratos e os depoimentos estão registrados no relatório da Operação nº 216, realizada por auditores fiscais do Ministério do Trabalho em julho de 2021, na área rural de Mirador. Ao fim da inspeção, 11 trabalhadores foram resgatados de condições análogas às de escravo. 

Depois daquele episódio, o gerente teria inclusive percorrido outras carvoarias, “mostrando as imagens e intimidando os trabalhadores com palavras ameaçadoras”, de acordo com declarações de outros funcionários citadas no relatório dos auditores fiscais.  



O responsável pelo negócio, segundo o MTE, seria S. M. A, - incluído diversas vezes na chamada Lista Suja do trabalho escravo, cadastro oficial do governo federal que torna públicos os dados de empregadores responsabilizados por auditores fiscais.

A cena de violência, o clima de medo e a rotina de exaustão nos fornos de carvão, narrados no relatório dos fiscais do governo federal, revelam mais do que violência pontual. Fazem parte de uma cadeia produtiva conectada ao mercado internacional e à maior fabricante de automóveis do mundo: a Toyota. 

A montadora japonesa vendeu 10,8 milhões de carros em 2024, uma leve queda em relação ao ano anterior, mas suficiente para manter pelo quinto ano consecutivo o título de maior fabricante de automóveis do mundo, superando a alemã Volkswagen.  



Entre as carvoarias de S.M.A e a multinacional japonesa está a Viena, siderúrgica com uma planta industrial em Sete Lagoas (MG) e outra em Açailândia, no oeste do Maranhão. A empresa é a maior compradora de carvão vegetal da região — inclusive o produzido no estabelecimento onde ocorreu o caso registrado em fotografia. A denúncia da agressão foi formalmente encaminhada à polícia e ao Ministério Público, mas não chegou a ser investigada.



Repórter Brasil percorreu essa parte da Amazônia para contar a história de Davi, o trabalhador fotografado espancado e amarrado, e ligar os pontos das conexões comerciais internacionais reveladas pela imagem esquecida em um relatório de 177 páginas.

Siderúrgica brasileira exportou ferro-gusa para a Toyota nos Estados Unidos

Ao pisar em uma carvoaria, no centro-sul do Maranhão, em poucos minutos, os olhos arderam com a fumaça. A fuligem cobria o chão e os rostos dos trabalhadores. Um deles, com o corpo enegrecido pelo carvão, definiu: “É trabalho duro. Mas é o que tem por aqui”. 



O carvão produzido nos empreendimentos associados a S.M.A abasteciam a Viena Siderúrgica. Situada no polo industrial de Açailândia, a unidade é uma das 40 maiores do Brasil. A usina utiliza o carvão vegetal para transformar o minério de ferro em ferro-gusa, uma liga metálica com várias aplicações, inclusive na indústria automotiva.

Os responsáveis alegam que o processo contra a empresa foi arquivado.

Mas o Blog Grajaú teve informações de advogados de trabalhadores de que o processo criminal contra ele não foi arquivado, conforme noticiado.

O que foi arquivado foi o pedido de prisão preventiva por que na época ele foi preso. E que ele ainda responde a dois inquéritos da Polícia Federal pela prática de trabalho escravo, um no Maranhão e outro em São Luís. O blog apurou também que ele procurou testemunhas que eram seus trabalhadores para mudar o depoimento e falar uma versão desejada por ele, no inquérito da PF.

Os advogados disseram ainda que a prática de trabalho escravo ainda continua, vários trabalhadores sem receber rescisão, férias, décimo terceiro e trabalhadores em alguns locais em condições insalubres e com trabalho exaustivo.

Veja a noticia completa neste link: https://reporterbrasil.org.br/2025/09/foto-trabalhador-amarrado-carvoaria-elo-toyota/

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